Se nos dedicarmos a observar o mundo ao nosso redor com os olhos da alma e do coração, vamos perceber que a natureza está repleta de valiosas lições que nos levam a uma infinidade de reflexões, tanto coletivas quanto subjetivas. Uma dessas lições, que ocorre de maneira simples e cotidiana, é a lição da borboleta que carrega consigo um exemplo de transformação que se assemelha ao nosso próprio processo de aprendizado e evolução. É verdadeiramente belo contemplar uma borboleta voando com suas cores pela natureza, no entanto, ela não surge assim prontamente. Ela passa por um necessário processo de evolução para finalmente alcançar todo o potencial que lhe é reservado.
Quantos de nós, em algum momento, não nos sentimos como verdadeiras lagartas, rastejando pela vida e acreditando que esse seria o nosso destino? Em estado de exaustão, recolhemo-nos a um casulo apertado e escuro, como se esse fosse o nosso destino definitivo. Contudo, então, algo dentro de nós começa a nos impulsionar para fora, mesmo que isso signifique enfrentar o medo e a resistência que temos em deixar esse espaço. Isso ocorre porque não desejamos mais rastejar, enquanto parece que toda a humanidade está em pleno voo magnífico. A pressão dentro do casulo torna-se insustentável, e esse desconforto nos leva a um impulso incontrolável de sair dali, resultando em um movimento intenso de agonia enquanto buscamos uma abertura para respirar. Nesse momento, em um ato mágico de transição e dor, percebemos que desenvolvemos asas e que, de fato, somos capazes de voar!
É crucial que estejamos atentos a esse processo e aprendamos todas as lições que ele nos oferece, de modo que, quando nos encontrarmos em um inevitável MOMENTO DE CASULO, tenhamos a consciência de que isso é essencial para efetuar mudanças em nossas vidas. Mudanças não ocorrem sem um certo grau de turbulência, inclusive, nosso próprio nascimento já é um evento traumático, pois somos retirados do útero (nosso primeiro casulo) que nos proporcionava proteção e sustento, para aprendermos a respirar com os nossos próprios pulmões e alcançarmos as fases necessárias do nosso crescimento.
O autoconhecimento revela-se como uma ferramenta vital nesse contexto, pois crenças enraizadas no nosso inconsciente podem dificultar esse processo, levando-nos a sentir que não merecemos possuir essas asas. Tornar-se livre do medo que nos aprisiona a uma existência rastejante é imperativo, a fim de compreender que, juntamente com as asas, advém a responsabilidade de navegar pelo desconhecido, em um voo no qual seremos os condutores do nosso próprio percurso.
Diversas razões nos conduzem a momentos de solidão, nos quais somos compelidos a enfrentar a nossa própria companhia e a escuridão interior. Tentar encurtar esse processo com o intuito de evitar aquilo que precisamos aprender, pode interferir na nossa capacidade de voar. E mesmo possuindo asas, ainda assim podemos rastejar caso não tenhamos absorvido a seiva do aprendizado necessário que dá sustentação às nossas asas. Por outro lado, o medo pode nos manter aprisionados no casulo por tempo excessivo, resultando na perda de oportunidades.
Novas oportunidades para iniciar esse processo sempre surgirão, e quanto mais cedo nos permitirmos vivenciá-lo, mais rápido alçaremos voo em direção a tudo aquilo que podemos ser em nossa magnífica existência!
AUTORIA: Silvana Lance Anaya - Psicanalista
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